terça-feira, 17 de abril de 2007

Burning Love - Amor Ardente


"Estou sentindo
A temperatura subir
Sempre alto
Sempre alto
Esta queimando minha alma
Beire, beire...
Atiça fogo em mim
Minha cabeça
Está queimando por dentro


Não sei onde vai parar
Seus beijos são igual canção
Meu céu está iluminado
De amor ardente
De amor ardente



Oh... oh... oh...
E continua subindo
Alguém me ajude
Estou ardendo em chamas
To virando fumaça
Mas eu me sinto bem

Na intimidade
As chamas queimam meu corpo
Então me ajude
E não me deixe cair
Está dificil até de respirar
Tenha clemência senão viro fumaça

Seus beijos
Me deixam alto
Igual uma doce canção
Meu céu esta iluminado

De amor ardente
De amor ardente
De amor ardente
De amor ardente"

(p/Elvis Presley)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Oração do Jovem Poeta

(P/ Maria)
(P/ Nietzsche)
(No princípio da adolescência)

"Dai-me, meu Deus,
uma inspiração tão incomensurável
quanto as estrelas

deste Céu

Uma amante tão formosa
que faça ejacular lirismo
nas carnes do

meu Verso

Crave
em meus olhos
as solidões da Noite

Goteje
em minha língua
o sêmen de fogo da Lua

Amém"

(Rodolfo.'Oração')


[No corpo dela,
à beira de um precípicio de delícias
...............................]

***

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Orvalho Ardente




"Ela é como uma fogueira


entranhada em


meu peito!"


(Rodolfo)









(para a noiva-fênix)




***ORVALHO ARDENTE***

"Naquela cidade longínqua
Onde o sol se deita


Corre um rio
Que não finda nunca

Suas águas são caudolosas
Como o teu beijo

Do orvalho dos teus olhos
Estão cobertos os campos


Lá mora um vilarejo


Suas ruas são cálidas
Como as sementes do teu rosto



Suas alvoradas tão vermelhas
Qto a seda dos teus seios

Na montanha erguida
Sobre os vales dos teus sonhos
É onde eu quero me abrigar e dormir

E sobrevoar os céus
Do teu corpo suado

Para mergulhar na lua
Da tua cama macia."

(Rodolfo)

Pássaros Celestes


"Às portas...
Onde nem a vista dos anjos alcança
E as fontes choram

A Glória queima num sol vermelho de sangue

Às portas...
Onde nem as estrelas dormem
E os reinos sonham

A Glória queima num sol vermelho de sangue

Lá onde a Verdade sussura no espinho de uma rosa
E se irrompe num grito de parto
Lá onde o Caminho se busca além da aurora dos olhos
E se percorre dentro do coração

Na morte da carne, na ressurreição da carne

Às portas...
Onde o Amor é infinito
E te será fiel até o final dos tempos."
(Rodolfo. 'Pássaros Celestes')

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Semana Santa IV


"Eu lhes afirmo com toda certeza:
se vocês não comerem a carne
do Filho do Homem
e não beberem o seu sangue,
não terão a vida dentro de si.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue,
tem a vida eterna,
e eu o ressuscitarei no último dia.
Pois minha carne é verdadeira comida
e meus sangue é verdadeira bebida.
Todo aquele que come a minha carne
e bebe o meu sangue,
permanece em mim e eu nele."
(Jo 6, 53-56)

Semana Santa III



"Eu sou o pão vivo descido do céu.


Quem comer deste pão,
viverá eternamente"



(Jo 6, 51)

Semana Santa II

"Chegada a hora, ele se pôs à mesa com os apóstolos e lhes disse: 'Desejei ardentemente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer; porque eu lhes digo que não mais a comerei, até que ela se cumpra no Reino de Deus."
(Lc 22, 14-16)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Semana Santa I

"Disse-lhe o anjo:
Alegra-te, ó cheia de graça,
o Senhor é convosco,
tu és bendita entre todas as mulheres."
(Lc 1, 28)

"Bendito é o frunto do teu ventre!"
(Lc 1, 42)


sábado, 24 de março de 2007

2.4 - Espada

"Para que o inimigo me não arrebate como um leão."
(Sl 7, 3)

“São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantaneamente vos pedimos. E vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude Divina, precipitai ao inferno a satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém!"

(Papa Leão XIII)

"São Miguel, rogai por nós.

São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.

São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.

São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.

São Miguel, poderosíssimo Príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.

São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.

São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.

São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, Luz dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos Cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da Cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, nosso Príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso Advogado, rogai por nós."

sexta-feira, 23 de março de 2007

2.3 - Lepra




"E chego aonde nada mais reluz."
(Dante. 'Inferno')




"Sua casa é o caminho da região dos mortos,
que conduz às entranhas da morte."
(Pr 7, 27)






"E perguntou-lhe Jesus: 'Qual é o teu nome?'
Respondeu-lhe: 'Meu nome é Legião, porque somos muitos."
(Mt 5, 9)



"Então foi-lhe dado poder a quarta parte da terra, para exterminar pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras da terra."
(Ap 6, 8)

2.2 - Rocha







"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja."

(Mt 16, 18)








"Tu possuirás os confins do mundo.
Tu as governarás com cetro de ferro,
Tu as pulverizarás como um vaso de argila."
(Sl 2, 8-9)

"Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma."

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 21 de março de 2007

2.1 - Queda

"No teu princípio esta teu fim."
(Sófocles. 'Édipo Rei')

"De fora mata a espada,
De dentro alastra a morte."
(Lam 1, 20)

"Aqueles que os dentes do cão afiam, significando
Morte
Aqueles que na glória do colibri cintilam, significando
Morte
Aqueles que na pocilga da satisfação se assentam, significando
Morte
Aqueles que do êxtase dos animais partilham, significando
Morte"
(T.S.Eliot)


" Não sei quem me pôs no mundo; nem o que é o mundo nem o que sou eu mesmo; vivo numa terrível ignorância sobre todas as coisas; não sei o que é meu corpo, o que são meus sentidos, a minha alma e essa parte mesma de mim que pensa o que digo, que medita sobre tudo e sobre ela mesma, e não conhece mais do que o resto.

Vejo esses terríveis espaços do universo que me rodeiam, acho-me amarrado a um canto dessa vastidão, sem saber por que estou neste lugar e não noutro, nem por que a esse breve tempo em que me foi concedida a vida ficou reservado este exato instante, e não outro, de toda a eternidade que me precedeu e da que se me seguirá. Por toda parte só vejo vastidões infinitas, que me encerram como um átomo e como uma sombra, que dura um só momento, sem volta.

Tudo o que sei é que devo morrer logo, e contudo o que mais ignoro é essa morte que não poderei evitar. Assim como não sei de onde venho, não sei para onde vou: e só sei que, ao sair deste mundo, cairei para sempre no nada, ou nas mãos de um Deus irado, ignorando a qual dessas duas condições serei dado eternamente em quinhão."

(Pascal. 'Pensamentos')

terça-feira, 20 de março de 2007

As Tempestades e Ímpetos de Hélade

"Que obra-prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como é infinito em faculdade! Em forma e movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência, como se parece com um deus! A maravilha do mundo!"
(Shakespeare. 'Hamlet')

"Eis um homem de verdade!"
(Napoleão, diante de Goethe)


Há 250 anos nascia, em Frankfurt, Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), a maior personalidade e poeta da literatura alemã e um dos maiores gênios artísticos de toda a história da arte. Sua obra, patrimônio universal, contemplou de modo sublime todo um universo de modelos e estilos, desde a poesia até o drama, passando pela novela, romance, ensaios, diários, cartas, etc. Falar de Goethe é discorrer a respeito da própria História do Espírito Humano, tal a grandeza e amplitude de sua obra - incontestávelmente um dos maiores monumentos literário-filosóficos da humanidade.

Conforme afirmou o biógrafo do poeta, Pietro Citali: "Cada uma das metáforas fundamentais de Goethe, cada uma de suas grandes intuições intelectuais, cada personagem importante de seus livros assemelha-se a um pequeno sistema solar."

A vida e a obra de Goethe refletem e iluminam de tal modo a mentalidade e as transformações pelas quais passava a Alemanha e a Europa que se costuma falar de uma Goethezeit ('Era de Goethe'). De fato, jamais em toda a história da haumanidade um homem mereceu tanto a alcunha de gênio universal. Nada lhe escapou, do contrário, seu espírito enciclopédico tudo vium tudo pensou, tudo transubstanciou em beleza artística. Afirmou Otto Maria Carpeaux: "A Goethe tudo serviu: mulheres e amigos, nação e Estado, trabalho, ciência, literatura, arte, a própria época histórica; tudo isso teve para ele o valor instrumental de ser 'ocasião' para ele transfigurá-la em poesia."

Goethe foi titânico no seu amor à Natureza, à Liberdade, à Grécia, à Shakespeare, à Arte, às Ciências, às Mulheres (que teve em demasia)... enfim, um navegante da Beleza. Toda sua vida foi marcada pela reveladora presença da figura feminina e, ele expressou esse turbilhão de sentimentos e experiências nas mais belas poesias líricas da língua alemã.


O Luto da Lírica

"Quantas vezes tenho de acalmar meu sangue rebelado - pois nunca viste nada tão desigual, tão inquieto como este coração."
(Goethe. 'Os Sofrimentos de Werther')

Goethe nasceu numa nação politicamente desmembrada em uma gama de reinos governados tiranicamente por príncipes, não existia uma nação e nem uma literatura alemã propriamente ditas. O que se viA era um painel desolador: uma Alemanha arrasada economicamente pela Guerra dos 30 Anos com um comércio e classe média esmagados e atrelados ao poder medieval de seus inexpressivos príncipes. Uma nação que não teve a sua Renascença, isolada do restante da Europa e, que vivia falaciosamente sob a égide da cultura iluminista-palaciana francesa. Como afirmou Arnold Hauser em História Social da Literatura e da Arte: "O espírito burguês dos séculos XV e XVI desapareceu da arte e da cultura alemãs - de quaisquer restos de arte e de cultura sobreviventes à Paz de Vestefália. Porque OS alemães não só seguiram o estilo aristocrático francês, mas adotaram-no sem restrições, importando artistas e obras de arte da França ou imitando servilmente os modelos franceses." O principado alemão tinha no rei da França e na corte de Versailles um modelo de vida a ser seguido, custasse o que custasse ao restante da nação.

Em meio a esse vergonhoso quadro de submissão da camponesa Alemanha perante a aristocrática França, é que Goethe, indignado, torna-se discípulo do pensador pré-romântico Herder e, juntamente com outros artistas de concepções romantizantes, "descobrem" o teatro de Shakespeare, a poesia de Ossian, a filosofia de Rousseau, a Idade Média Alemã e as canções populares, para, somando tudo isso às revolucionárias e idealistas concepções acerca da necessidade de um "nacionalismo literário" e do conceito profundamente inovador de gênio artístico, formentar as principais bases ideológicas para a eclosão do "Sturn und Drang" ('Tempestade e Ímpeto') na Alemanha.

O Sturn und Drang foi um movimento pré-romantico de renovação da cultura e letras alemãs que se insurgiu contra a influência nefasta que a cultura francesa exercia sobre a alemã. Tal movimento era caracterizado por profundas inclinações místicas, medievalismo, sentimentalismo e contradições filósóficas - um misto de individualismo revolucionário e idealismo poético! Uma nova sensibilidade poética que nega e combate a estética classicista francesa.

É nesse contexto histórico de insolúveis inquietações existenciais que o jovem e rebelde Goethe vem se constituir no maior poeta e arauto do Sturn und Drang com a publicação de suas magistrais poesias líricas e do fundamental romance epistolar "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (o romance do romantismo!). Esse retrata a trajetória de um amor não correspondido e do consequente suicídio do herói; tudo, envolto num excessiva aurea de sentimentalismo e, crescente desespero, melancolia e tragédia final.

Com isso, o personagem Werther torna-se o símbolo de uma era, o protótipo do herói romântico: homem sonhador, melancólico e inconformado que leva até as últimas consequências as soluções mais trágicas para dar cabo ao inexorável conflito entre a sede de Absoluto do "eu romântico" versus a pobreza prosaica da vida cotidiana.


Fáustica

"Ah! Que delícia irrompe neste olhar, / Por meus sentidos, repentinamente! / Sinto vigor, flamante, singular, / Varrer-me o sangue em êxtases fulgurantes. / Gravou um deus, acaso, esses sinais, / Que em mim abrandam a íntima fervura, / A pobre alma enchem de ventura, / E em ímpetos transcendentais, / Me expõem da natureza a oculta Tessitura? /
Sou eu um deus?"
(Goethe. 'Fausto')


A síntese goetheana suprema se firmou com o adventou de sua velhice onde Goethe finalmente conclui sua obra maestria: "Fausto", o maior poema dramático-filosófico da literatura alemã. Fausto foi obra de uma vida; Goethe levou 60 anos para finaliza-la. A respeito de sua importância, sentenciou Harold Bloom em O Cânone Ocidental: "Como as peças de Shakespeare, a Divina Comédia de Dante e o Don Quixote de Cervantes, o Fausto é mais uma escritura secular, um imenso livro de ambição absoluta." - o momento mais sublime da chamada "religião do eu", segundo o mesmo autor. Fausto/Goethe, com sua infinita exuberância da linguagem, magnificência lírica e inventatividade mitopoética aspira a uma visão total da essência do Espiríto Humano.

"Eu mesmo, o que sou? O que foi que fiz? Eu recolhi e utilizei tudo o que ouvi e observei. Minhas obras foram alimentadas por milhares de indivíduos diversos, ignorantes e sábios, pessoas cultas e tolos. A infância, a maturidade e a velhice vieram me oferecer suas idéias, suas faculdades, suas maneiras de ser. Frequentemente eu colhi o que outros tinham plantado. Minha obra é a de ser um coletivo que leva o nome de Goethe." (Goethe)

Um livro que elevou as aspirações humanas a altos cumes de beleza e profusão de desejos! Fausto/Goethe tudo quer, tudo prova... Quantas sedes!... Quantos sonhos!... Utilizando uma belíssima metáfora de Nietzsche, Fausto é o "rio do ser".

Fausto/Goethe é um dos fundadores do modernidade haja vista que tentando gerenciar e modificar o "seu" velho mundo (medieval), o personagem Fausto vivência as tensões espirituais e as rupturas históricas que irão culminar numa nova ordem sócio-economica. Desse modo, ele vislumbra um novo mundo: o mundo burguês. Como acrescentou Marshall Berman em Tudo O Que É Sólido Desmancha No Ar - A Aventura da Modernidade: "Fausto participa de (e ajuda a criar) uma cultura que abriu uma amplitude e profundidade de desejos e sonhos humanos que se situam muito além das fronteiras clássicas e medievais." Não por acaso, Puchkin se referia a Fausto como a "Ilíada da vida moderna".


Werther visita a Grécia...

"Assim seja Goethe: nossa sede de plenitude da inteligência, de olhar universal e de produção feliz. Ele representa, Senhores Humanos, uma das nossas melhores tentativas de tornarmos-nos semelhantes aos deuses."
(Paul Valéry)

"Ah! Vivem em meu peito duas almas!"
(Goethe. 'Fausto')

A crítica literária, tradicionalmente, divide de modo arbitrário a vida de Goethe em dois períodos distintos e antagônicos: O jovem Goethe pré-romantico e o velho Goethe neoclacissita. Tal didatismo é simplicista e empolbrecedor da grandeza e amplitude do gênio de Goethe uma vez que só se limita a enxergar no último Goethe uma figura de calma olímpica dotada de um "soberbo autocentrismo", - um homem alquebrado pelo destino e enrijecido pelo tempo. Eis uma visão completamente anacrônica e indigna do autor de Fausto. Argutamente afirmou o grande Erich Auerbach em Mimesis: "É completamente tolo desejar que Goethe tivesse sido diferente do que foi; os seus instintos, as suas inclinações, a posição social que alcançou, os limites que impôs à sua atividade, fazem parte dele; de nada disso pode-se prescindir, sem destruir o conjunto."

Não há como negar que o homem Goethe teve desde sempre grandes ambições palacianas, egocentrismo exarcebado e insensibilidade política. Contudo, Goethe não se esgota no "Classicismo de Weimar". Como bem notou Paul Valéry, Goethe é um gênio de metamorfoses, que não se deixar apreender, que não se deixa reduzir a meros esquemas teóricos. Nesse sentido, é imprescindível destacar que Goethe, no final da vida, foi um homem que concebeu e comungou dos mais elevados e caros ideais de sua época: ele ansiava por um ideário de "formação total" da cultura do indivíduo e por uma sociedade mais livre e plena onde houvesse espaço para uma "literatura mundial" que congregasse homens e nações.

Não obstante, o universo-Goethe sempre estará além do nosso trôpego entendimento: nem romantismo, nem classicismo; nem idealismo, nem realismo; nem Apolo, nem Dionísio. Antes, a fusão dos contrarios! Nem o novo, nem o velho. Antes, o homem total! Goethe realiza o caminho inverso de Prometeu: leva o fogo sagrado de volta para o Olimpo, mas, já agora, um outro fogo, um fogo humanizado.

Em suma, fosse qual fosse o período de sua vida e estilo literário, Goethe visava sempre um único fim, o mais universal, multiforme e glorioso de todos: o Homem.


"... assim me torno eu próprio a humanidade."
(Goethe. 'Fausto')

ass: Rodolfo Miranda

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Ps: Artigo publicado na terceira edição do Jornal de Direito da Universidade Católica de Brasília por ocasião da comemoração dos 250 anos do nascimento de Goethe.

A Última Rosa (onde tudo se extingue)


"Senhora dos silêncios
Serena e aflita
Lacerada e indivisa
Rosa da memória
Rosa do oblívio




Exânime e instigante
Atormentada e tranquila
A única Rosa em que
Consiste agora o Jardim
Onde todo o amor termina
Extinto o tormento

Do amor insatisfeito
Da aflição maior ainda
Do amor já insatisfeito

Fim da infinita
Jornada sem termo
Conclusão de tudo
O que não finda

Fala sem palavra
E palavra sem fala
Louvemos a Mãe Imaculada
Pelo Jardim



Onde todo amor termina."

(T.S.Eliot)

segunda-feira, 19 de março de 2007

1.4 - Leito

"No quarto um leão morto no espelho."
(Rodolfo Miranda)


"Ali, onde uma língua inumerável
Insinuou-se em seu quarto com um lamento viril
Sua fé esvoaçou desfeita em torno dela
E a escuridão enfeitou as paredes com buquês de serpentes,
Um super-homem ou quase homem com narinas de fornalha
E mebros semelhantes a colunas
Que lhe pareciam aos sentidos embotados

O ladrão da adolescência,
Logo irreal ou semi-relembrado
O oceânico amante solitário
Cujos ciúmes ela não pode esquecer por nada deste mundo,
Fez seu leito perverso em sua suave
Noite, e dela se serviu o quanto quis

Gritando, sob a alva camisola, em meio aos cenários do luar
Até as marés que umas após outras a ouviam
Próximo e distante, ela anunciou o roubo do coração
Em seu corpo que assumia diversas idades,

Estuprador e noiva violentada
Celebrando ao seu lado
Todos os assaltos selados pelo sangue
E as bodas esvaídas em que não lhe coube nenhum papel lisonjeiro
Nem pôde compartir, apesar do seu orgulho, até o último
Sussurro e o repugnante bater de asas do solente sacerdote noturno,
Suas horas sacras e sacrílegas com a besta eternamente anônima."

(Dylan Thomas)

1.3 - Banquete

"E batalhamos.
Dois Tigres
Devotos de um só deleite
Estilhaçando suas armaduras




Amor e fúria


Carícia, garra






E a centelha rara
De dois corpos e uma batalha."
(Hilda Hilst)

1.2 - Fervor

"De rispidez e altivo
Passeias teu passo predador
Sobre o meu peito

E sobre o meu deserto.



Minha alma a teu redor
Na muralha dos séculos.
De amplitude e fervor
A casa e sua candeia



Te aguardam.


Famintas dessa caça
E desse caçador.

Um sol que se dissolve
E me incendeia."
(Hilda Hilst)

1.1 - Fome

"Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo,

E pelas ruas vou sem nutrir-me, calado,
Não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,
Busco o som líquido de teus pés no dia.


Estou faminto de teu riso resvalado,

De tuas mãos cor de furioso celeiro,
Tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
Quero comer tua pele como uma intacta amêndoa.


Quero comer o raio queimado em tua beleza,
O nariz soberano do arrogante rosto,
Quero comer a sombra fugaz de teus olhos


E faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
Buscando-te, buscando teu coração ardente

Como um puma na solidão de Quitratúe."

(Pablo Neruda)

domingo, 18 de março de 2007



Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.



Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,



No vasto chão supremo que não está em cima nem em baixo.



Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais."

(Fernando Pessoa)

A Fúria dos Sentidos

"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco."
(Fernando Pessoa)